domingo, 23 de fevereiro de 2025

Amor a música,ilusões ,minha louca jornada

 

Fiz parte do coral dos 13 aos 29 anos. Sim, 29 anos . Parece uma vida inteira, não é? E, de certa forma, foi. Foi nesses anos que aprendi a amar a música de verdade, que fiz amizades inesquecíveis, que ri até chorar nos jantares pós-ensaio e que chorei de verdade quando vi pessoas queridas partirem – muitas delas idosas, que tinham dedicado décadas ao mesmo coral.

Cantei no coraol Canta Irati , no Coral Gaudeamus in Domino , e cada momento ali foi uma mistura de felicidade e descoberta. Cantávamos muito, íamos a festivais, participávamos de celebrações, e eu me sentia parte de algo maior. Era simples, era genuíno, e eu era feliz.

Mas a vida tem o estranho hábito de nos empurrar para fora da zona de conforto. Num impulso que hoje chamo de "subta loucura" , deixei minha cidade e fui para Santa Catarina. Lá, entrei para o Coral Vozes do Vale , e depois acabei cantando como backing vocal na Banda Elvis Rock Clube . Cada experiência trouxe algo belo, mas também trouxe dor. Uma dor sutil, quase invisível, mas que se acumulava dentro de mim como poeira em um piano antigo.

No Coral Vozes do Vale , vivi momentos que jamais esquecerei. Foi lá que tive a oportunidade de subir em um palco para cantar ópera com o coral – árias que me fizeram sentir, pela primeira vez, que eu poderia ser mais do que apenas uma voz no meio de tantas outras. Mas... (há sempre um "mas", não é?) certo dia, o maestro – cujo nome apaguei completamente da minha memória – disse algo que me marcou profundamente. Ele pediu que eu apagasse minhas postagens na internet. Disse que eu não deveria me expor tanto.

Na época, eu gravava vídeos apenas para compartilhar com amigos e familiares, algo simples e íntimo. Não era sobre fama ou exposição; era sobre guardar memórias. Mas aquele comentário me atingiu como um golpe. Me senti censurada, diminuída, como se minha paixão fosse algo errado. Como se eu não tivesse o direito de existir plenamente.

E havia mais. O Coral Vozes do Vale era composto por pessoas ricas, e eu... bem, eu não era. Sentia isso em cada olhar, em cada comentário velado. Era como se eu fosse uma intrusa, alguém que não pertencia àquele mundo, mesmo tendo passado nos testes e provado meu valor. Aquilo me machucou mais do que gostaria de admitir.

Mas sabe de uma coisa? Eu passei nos testes. Entrei porque mereci. E ninguém, nem mesmo um maestro arrogante ou um grupo de pessoas julgadoras, pode tirar isso de mim.

Hoje, olho para trás e vejo que cada etapa da minha jornada – desde o coral da minha cidade até os palcos maiores – moldou quem sou. Cada risada, cada lágrima, cada crítica injusta me fez mais forte. Mais resiliente. Mais eu .

Ainda assim, às vezes me pergunto: será que valeu a pena? Será que todo esse caminho foi realmente por amor à música? Ou foi só uma ilusão, uma busca incessante por aceitação e validação?

Talvez nunca saiba a resposta. Mas sei que continuo cantando. Porque, no fim, é a única coisa que realmente sei fazer. E, mesmo com toda a dor, ainda acredito que há beleza nisso.

 

vozes do vale -Coral





"Brindo às divas que cantam em karaokês às três da tarde. Somos incompreendidas, mas geniais. 

Amor a música,ilusões ,minha louca jornada

  Fiz parte do coral dos 13 aos 29 anos. Sim, 29 anos . Parece uma vida inteira, não é? E, de certa forma, foi. Foi nesses anos que aprendi ...